segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Talvez...


Dancei um tango e não gostei, dancei e dancei a mesma música e um dia cansei, como canso das palavras sempre ditas, dos sorrisos sempre amarelos, de cigarro e de coisas sem graças, de coisa que passa. Cansei dos dias sempre nublados, cinzas, só cinzas e do céu sem estrelas porque haveria de chover na manha seguinte. Um dia há de passar a chuva também. Tudo passa, passam os pássaros que passam voando e a dança, uma hora há de passar.
E por favor, não teime em repeti-la, não teime e voltar. A vida nunca deseja a que a música passada ouse tocar no presente. Na verdade, no instante presente, só há de tocar a música do coração, o canto d’alma, o breve silêncio entre o sim e o não. E na dúvida, sempre arrisque! E não há sentido nisso, nem tão pouco um punhado de razão.
Minhas incertezas se anunciam num céu bordado de borboletas que viram fadas e criaturas levadas, que brincam com as nuvens e insistem em não se aquietarem, nunca e jamais! Meu paladar quer o doce e o salgado nunca provados, o riso azedo e o riso amargo, o olho e o olhar, pra espantar o mal olhado. A mochila e o pé na estrada, pra um destino novo e sem chegada. E não me canso do movimento eterno, das idas e vindas que a vida me traz.
Às vezes a dança nos escapa como nos escapam as palavras. A dança que escapa, assim como as palavras que vêm, derramadas, sufocadas. Vomito tudo num sentido só: ser livre de mim, livre de alguém. Dançar um samba ou uma outra canção, dançar uma letra que eu desconheça. O desconhecido sempre nos parece mais belo, seu refrão arrepia quando é ouvido sem saber o que ele já ia dizer.
Coisas comuns, rotinas de flores murchas, os mesmos olhos, os mesmos cheiros, desejos, sujeitos, os mesmos, eram sempre os mesmos! E agora, na dança que danço... Agora não! Agora o céu é cinza e às vezes azul, com e sem sol, talvez... Talvez dê praia, ou não dê em nada. Mas que fique o talvez no lugar da certeza, mórbida e sempre a mesma. Mas que fique o frio na barriga no lugar da angústia de ver sempre a mesma sobremesa á mesa. Que seja bolo, frutas ou torta, a incerteza não engorda! 


Sirva-se....

2 comentários:

  1. O pé na estrada,
    A estrada no horizonte,
    O horizonte no olhar,
    O olhar no pé
    E o pé na estrada.

    Talvez a incerteza seja mais do que a certeza, de que nada é certo. Somos então dúvida e indecisão. O momento entre o sim e o não. Somos ação e reação. Ou não!

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  2. LINDO! Grata pela presença anônima e cheia de significados bons!

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