Talvez...
Dancei um
tango e não gostei, dancei e dancei a mesma música e um dia cansei, como canso
das palavras sempre ditas, dos sorrisos sempre amarelos, de cigarro e de coisas
sem graças, de coisa que passa. Cansei dos dias sempre nublados, cinzas, só cinzas
e do céu sem estrelas porque haveria de chover na manha seguinte. Um dia há de
passar a chuva também. Tudo passa, passam os pássaros que passam voando e a
dança, uma hora há de passar.
E por favor,
não teime em repeti-la, não teime e voltar. A vida nunca deseja a que a música
passada ouse tocar no presente. Na verdade, no instante presente, só há de
tocar a música do coração, o canto d’alma, o breve silêncio entre o sim e o
não. E na dúvida, sempre arrisque! E não há sentido nisso, nem tão pouco um
punhado de razão.
Minhas incertezas
se anunciam num céu bordado de borboletas que viram fadas e criaturas levadas,
que brincam com as nuvens e insistem em não se aquietarem, nunca e jamais! Meu
paladar quer o doce e o salgado nunca provados, o riso azedo e o riso amargo, o
olho e o olhar, pra espantar o mal olhado. A mochila e o pé na estrada, pra um
destino novo e sem chegada. E não me canso do movimento eterno, das idas e vindas
que a vida me traz.
Às vezes a
dança nos escapa como nos escapam as palavras. A dança que escapa, assim como
as palavras que vêm, derramadas, sufocadas. Vomito tudo num sentido só: ser
livre de mim, livre de alguém. Dançar um samba ou uma outra canção, dançar uma
letra que eu desconheça. O desconhecido sempre nos parece mais belo, seu refrão
arrepia quando é ouvido sem saber o que ele já ia dizer.
Coisas comuns,
rotinas de flores murchas, os mesmos olhos, os mesmos cheiros, desejos,
sujeitos, os mesmos, eram sempre os mesmos! E agora, na dança que danço... Agora
não! Agora o céu é cinza e às vezes azul, com e sem sol, talvez... Talvez dê
praia, ou não dê em nada. Mas que fique o talvez no lugar da certeza, mórbida e
sempre a mesma. Mas que fique o frio na barriga no lugar da angústia de ver
sempre a mesma sobremesa á mesa. Que seja bolo, frutas ou torta, a incerteza
não engorda!
Sirva-se....
O pé na estrada,
ResponderExcluirA estrada no horizonte,
O horizonte no olhar,
O olhar no pé
E o pé na estrada.
Talvez a incerteza seja mais do que a certeza, de que nada é certo. Somos então dúvida e indecisão. O momento entre o sim e o não. Somos ação e reação. Ou não!
LINDO! Grata pela presença anônima e cheia de significados bons!
ResponderExcluir