Não era uma cegonha - Da dor ao amor!
Depois do
marca e desmarca da cesariana (cheia de medo, escolhida por conveniência e mais
medo ainda de um parto normal) decidimos o dia 14. Mas 14? Numerosinho tão mais
ou menos, nem 13 e nem 15... Q.u.a.t.o.r.z.e. ! Lento até na forma de se
pronunciar. E lá estava eu, toda nos preparativos, arrumando o quartinho,
pensando no meu inhoque do almoço de sábado, programando meu ultimo fim de semana
de barriga. Acordo no dia 8, belo sábado de sol que entrava sem pestanejar na
minha janela e vou apertada ao banheiro, (grávidas são amigas das privadas!)
ops, nem deu tempo de chegar e já fiz o xixi, pensei eu depois de ter escutado
as mil e uma historias de bolsas que estouram e de grávidas que pensam que é
xixi. Achei meio estranho e lembrei que poderia ser a bolsa (mas e o plock que
me falaram? Não era uma enxurrada que descia?) fui falar com a minha mãe e
decidimos esperar, até vazar em mais uma calcinha o liquido com cheiro de água sanitária,
vulgo banheiro de rodoviária. Ai a fixa caiu e sem cair completamente eu fui na
maior calmaria me arrumar pra ir ao hospital. Chego lá, em jejum e só vou
internar à tarde. Contraçãozinha vai, contraçãozinha vem... Que beleza essa
colicazinha. Essa é a dor que as mulher reclamam? Que frescura (coitada,
achando que ficava por aquilo mesmo). A danada foi chegando, eu que não sabia o
que fazer só não fiquei deitada igual a medica me falou. Do resto, cantei
mantra, deitei no chão, andei o hospital inteiro, fiquei de cócoras, quis fugir
clandestinamente e correr pra outro hospital e fazer logo a cesárea (tão mais
simpática), vi Deus numa alucinação, suei, pensei em escrever uma carta de
adeus pensando que daquela não passava, chorei, morri de chorar, entrei no chuveiro
(que alivio) e nos 8 cm finais (ainda faltavam 2) eu respirei fundo, não vi
nada, não sabia de nada, não era nada, fiz a maior força da vida e me descobri
forte outra vez. Nasceu num choro, na madrugada gelada e quente de estrelas e
nuvens no céu, depois da tempestade de granizo, depois do sol que entrou num
sorriso. Senti que agora eram dois corpos no mesmo sentimento, senti seu choro,
tão lindo, morri e nasci outra vez. Não completamente eu mesma, mas
absolutamente mãe! Peguei o Pedro no colo, no meio do suor e do alivio da dor,
senti seu coração, junto com o meu, imaginei um filme da vida, dos primeiros
passos, dos rabiscos na parede da sala, do primeiro banho de mar, do sorriso,
do abraço, do amor. Era realmente lindo, bem mais que isso, era a vida! A vida
tão mais simples e tão mais viva. E no meio daquilo tudo, da luz e do escuro eu
me descobri vulnerável, mas capaz, menina, mas mulher, ninguém e ao mesmo tempo
eu! Eu era aquilo tudo, viva outra vez! Menino nos braços, coração bonito, sem
aperto, sem receio, era amor!!!