segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Quando


   E às vezes, quando o coração aperta e a gente não sabe se fica ou se vai, é hora de deixá-lo falar baixinho e pegá-lo no colo com todos os medos saudades e alegrias, com amor. É hora de refazer as malas e jogar uns papeis fora, de gravar aquele sorriso de uma amiga que vai pra uma faculdade longe de você, uma amiga que você deseja nunca esquecer. Hora de dizer boa sorte. Ou “boa hora”. Hora de arrumar as malas da maternidade e escolher um sapatinho vermelho, “pra dar sempre sorte pro nosso menino”. Agora a gente respira fundo e lembra do sol de janeiro passado, que passou. Das velhas estradas por onde muitas vezes pensamos sempre caminhar por elas, mas já estamos longe demais disso. Do sorriso fácil de um palhaço, do sorriso largo de uma criança sem dentes, da medalha de um santinho que diz a oração do santo anjo no seu verso. Das borboletas que voam com sutileza e leveza, das minuciosas palavras de carinho que alguém um dia guardou pra te dar num botão de flor.  
   A gente da risada do que passou, da fragilidade do eu, do ego com sua crista de galo bravo, do choro mansinho que desejava tanto falar. Descobre que a gente pode dançar conforme a musica, mas pode tapar os ouvidos pro que está tocando. A gente quer correr mansinho agora, pra não deixar o tempo escapar das mãos, como um punhado de areia; quer o céu de todas as cores, a chuva e o sol. A gente quer prever o futuro e ficar aqui mesmo. No tempo que não tem nome. Na nostalgia que é agora e em segundos, já não é mais.
   Eu queria ser um passarinho que voa bonito quando o sol vai embora, eu queria ser do tamanho do amor e por debaixo das asas tudo que cabe num abraço bom. Uma vez eu entrei no mar de noite e no céu preto tinham varias estrelas pintadas de prata brilhante. A água parecia céu e o céu parecia mar. Céu de água e mar de estrelas.  É dessas coisas que eu gosto de me lembrar! E ainda que não faça mesmo sentido algum e que da primeira á ultima frase isso tudo não passe de uma mescla de carinhos e lembranças, eu gosto disso por ser a vida, imperfeita, sem gênero nem tema. A gente vive o que o vento nos trás!

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Infância

Eu me lembro bem de ser criança e de achar que o colo do meu pai era o cantinho mais seguro do planeta. Eu ficava olhando as sardinhas da minha mãe e pintava sardinhas no meu rosto de canetinha marrom. Corria tanto com os meus patins que achava que ia voar. Eu conhecia de olhos fechados todos os lugares da horta do meu avô e tinha certeza que as fadas moravam por lá. Queria ser uma bruxa, mas uma bruxa boa e ter um macaco de estimação. Me lembro quando eu corria pra água do mar e imaginava que minhas pernas se transformavam em caldas de sereia, de todas as cores. Eu gostava de contar as estrelas do céu e de imaginar formas pras nuvens. Ria tanto que fazia xixi na roupa e ria sem motivo. Me lembro que um dia minha avó fez pipoca com chocolate quente e eu achei uma combinação incrível. Amava desenhar as bonecas com a pinta da Angélica, mas todas tinham a xuquinha da Xuxa. Amava subir na porta e passar pelos lugares apertadinhos que mais ninguém conseguia. Às vezes eu me agarrava, mas eu adorava!  Não gostava de comer feijão e não gostava de relógio e nem de ir á escola. Tinha uma melhor amiga do mundo que eu achava que um dia seríamos irmãs e tinha uma máquina de fazer broches que eu nunca usei com medo de acabar. Amava coisas novas e andava com o chinelo novo em cima da cama e dos tapetes até eu achar q ele era velho pra andar na rua. Grudava o chiclete no prato na hora da comida e escrevia os nomes dos meus futuros maridos príncipes debaixo da mesa da minha avó. Odiava qualquer brinquedo de girar e aqueles que deixam a gente de castigo no alto. Uma vez tive piolho, mas nunca tive verrugas na ponta dos dedos por contar estrelas do céu. Uma vez eu rasguei um saco enorme de açúcar e brinquei de neve, fiquei de castigo por um bom tempo, mas foi incrível! Amava andar de meia pela casa e minha mãe odiava tanto e amava também o cheirinho que os trabalhinhos da escola tinham. Tinha um papagaio que cantava atirei o pau no gato e um cachorro grandão que se chamava Tobby. Depois tive um pequeno, e depois do pequeno ir embora só tive peixes e ratinhos, mas nunca um macaco. Queria fazer uma festa na lua, pra todo mundo dançar no ar. Não gostava de pintar as unhas e ainda não gosto. Não gostava de brincos e ainda não gosto. Gostava de usar macacão e uma blusa de borboleta que a vovó Lilina fez. E amava colher florzinhas pelo caminho da casa dela. Gostava de leite quentinho antes de dormir e gostava de ser uma princesa. Era o que meu pai dizia. Quando eu era bem pequena comia tatu bola e nunca tive dor de barriga por isso. Amava banho de chuva, e ainda amo! Tinha uma casinha de bonecas dentro do meu guarda roupas, que eu mesma fiz e tinha também uma irmã boneca que se chamava Ana. Hoje meu príncipe não tem coroa e eu não tenho mais medo de escuro. Sei pegar ônibus sem o frio na barriga, sei ver horas no relógio de ponteiro, ainda odeio matemática e decidi não ser mais bruxa, nem fada, só mãe. Uma menina mãe ou uma mãe que é pra sempre menina! Feliz dia das crianças!!!

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Imperfeito!
   Cancerianos sentem frio na espinha só de pensar em mudar. Mudar o corte do cabelo, mudar de escola, mudar o sonho. Mudar, virar a vida, bagunçar os papeis, aumentar o som, falar alto, rir alto, ser mais alto, mais que um salto. Mais forte, sem contar com a sorte. Somos assim, pequeninos e inseguros, de coração grande, apaixonados pelas flores e pelos amores, ainda que as palavras não consigam ao certo dizer.
   Quando descobrimos então que a tal vida não para pra que a gente levante devagar de um tombo, e que nem tudo é exatamente como na mente deveria ser, o barco tomba, o coração aperta, a borboleta volta a virar lagarta e a gente quer sair sem ter entrado. Quer pintar sem sujar os dedos e se recusa a fazer um rabisco torto. Ora, que bobagem, a vida não é mesmo assim! Meninas podem ser mães aos 18 anos e podem levar as malas pra qualquer lugar. A gente pode parar numa praia e ver o sol caindo no mar. Pode desfazer laços da mesma forma que pode amarrá-los com nós mais fortes ainda. Pode pegar duas bolas de sorte quando tem dúvida de qual sabor e pode errar mil vezes, mil e uma até aprender que errar é normal.
   E quem disse que o frio na espinha sumiu? E que a mão parou de molhar e que as bochechas não hão de ficar tão rosas? A gente pode mudar pra um novo número e sentir medo de novo, e pode aprender a ser mãe só de sentir a luz no ventre, só de ser bonita, só de fazer chorar e ainda assim sentir muito medo, mas não o bastante pra desistir. Um dia me disseram que ninguém podia mencionar a grandeza do seu sonho por você, porque só você saberia a resposta. Eu sei que meu sonho é grande, do tamanho de um pingo pro universo inteiro, mas do tamanho do mundo pro meu coração. E que um filho fruto do amor só pode se chamar amor, vindo ele como for!

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

É permitido sonhar!

   “E que as ilusões, leia-se felicidade, eram apenas isso: ilusões!” Que a ciência prova tudo, tem tese e conteúdo e que depois o  resto era só resto, o romantismo era só romântico, sem fato comprovado. E depois? E antes disso? Será que estamos fardados ao pequeno mundo infeliz cheio de provas e de concreto de areia? Isso, e nada mais? Ou será que os olhos preferem não ver aquilo que, de fato, jamais veriam por ser coisa só do coração. E justamente por isso é que é tão melhor ignorar a alegria, a magia e tudo que não se vê nem se toca.
   Algumas vezes é preciso se jogar de venda nos olhos e acreditar sem cruzar os dedos. Pode dar certo, se você quiser! É preciso não ter cautela, nem prudência e sair correndo pra alcançar o sonho, seja qual for sua altura. Sem pensar no peso, no ato, no depois. Depois é só depois que você fizer o agora, que você decidir viver e ser feliz pra sempre, ainda que o pra sempre seja um lugar do qual ninguém nunca chegou.
   Ter brilho, o tal brilho nos olhos que carrega a juventude no fundo da alma mesmo que o tempo resolva correr de bicicleta. Ter carinho, carinho pelas escolhas e pelas flores do caminho, carinho com o sonho e com as palavras que o coração deseja dizer. Ter amor, que nunca é demais. Amor pelo que faz, amor pela pessoa que você é. Amor para um abraço, amor pra dar um laço e tornar a vida mais doce, (agridoce, eu prefiro).  E eis que na leveza de ter o que não se compra, surge a magia de estar vivo e gerar a vida, tão linda, sem precisar gritar pra ouvir o eco. Mágica é quando você se torna simples, simplesmente feliz por acreditar naquilo que você deseja que um dia se torne real!