Uma dose de mim
Não
se assuste se este não for um texto assinado pela menina mãe, na verdade, esse
é um texto só de uma mulher. A mulher da qual sempre se escondeu nesse paradoxo
de menina mãe. Que queria tanto arriscar um batom vermelho nos lábios, mas não
se via assim no espelho, por isso ainda preferia o velho par de tênis que
costumava a levar para lugar nenhum. O fato é que, ser mãe, tem me feito querer
ser mulher também. Mulher tem dessas coisas, na verdade mãe. Às vezes é preciso
abrir um espaço, colocar uma vírgula no meio das mamadeiras, chupetas, fraldas
e afins e dizer: ei, eu também sou mulher, oi, eu também quero existir um
pouco! E a culpa não é do seu bebê, nem dos outros, é sua mesmo! A responsabilidade
começa a ser toda sua. Você fez uma vida, oras. Porque é que não consegue ter
um tempo pra ser mulher também?
Às vezes, a gente esquece, claro. Mãe que é
mãe tem olheiras, fica sem fazer xixi, fica sem comer, fica magra ou gorda
demais. E ainda tem quem de palpite ou quem te de uma bronca, por você não comer
de três em três horas. Como se isso, fosse realmente possível! E você passa a
ter suas verdades e suas totalidades e sente que agora o amor parece estar
desconfortável, meio que sem lugar no sofá. Como se o sofá, fosse de outra casa
e as pessoas do sofá, de outra família. Quem é esse gordo ai, não me dando
espaço? Assim que tá o amor, espremidinho, tentando sobreviver e respirar,
encostado num desconhecido. Ah o amor, quem dera se fosse mesmo aquela coisinha
que dispensa cuidados e cresce no relento feito aquelas florzinhas de mato. Não
é! Amor é feito criança. Exige atenção, cuidado e mais amor. Amor quer amor,
oras!
Parece ser tão simples e às vezes (na maior
parte) tão complicado e exigente que tudo isso tem me feito correr pra varanda
da minha alma, tomar o tempo num gole só e quiçá fazer as coisas pararem de
correr contra ele. Contra os sonhos e os demônios. Desacelerar! Tomar uma dose,
mil doses talvez de mim mesma e me embriagar de toda a minha loucura e minha
parte sã. Suplicar pelo conforto, pelo sofá espaçoso, pra ele às vezes ser só
meu! Descobrir a parte de mim que se escondia, mas que estava aqui, querendo
ser chamada de mulher! Eu, outra vez, reinventando, re-amando meu próprio amor!
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