quinta-feira, 6 de março de 2014

Fotografia


Quem dera se a vida fosse que nem um retrato, um álbum de fotos ou um quadro pendurado. As fotos sim são belas, ainda que um dia se tornem amarelas, são só amarelas, tristes não. As fotos são sempre sorrisos e gente que a gente guarda com a gente, num álbum bonito. Nas fotos a gente esconde a feiura e toda amargura que sente. Nas fotos, tão contentes, quem vê só as fotos pouco sabe da gente. Não sabe! Acha que se é feliz desde o momento que se acorda até a hora de deitar. Que não baba, não peita, não chora, nas fotos se é feliz a toda hora. E sempre é hora! Um flash que registra tudo congela a gente, num instante só. Que dó! Não somos assim. Nem de papel nem feitos só de fé, ternura e amor. Que dó de alguém pensar assim! Somos por dentro bem feitos e feitos de sons e cheiros que não saem numa revelação. Somos da carne e do osso, do bem e do mal. Choramos, ainda que escondidos, ainda que contra nossa vontade e não deixamos nessas horas ninguém nos fotografar. Mas somos! E que dor de ser assim, mas que bom ser também real. Sem efeitos ou cores tão lindas, sem tinta e cabelos sempre arrumados. Às vezes acordamos mal humorados! E ainda que a vida não se pareça um álbum de família, com todos sentados à mesa pra uma foto de natal, a vida, é bonita, feia, sem graça e cheia da graça dela. Transborda, arrota, namora e termina todos os dias com sua dor e seu amor. Depois acorda, arrota, engorda, nunca é a mesma, nunca está igual. É sempre REAL!